sexta-feira, 19 de agosto de 2016

A ILHA DO CORVO QUE VENCEU OS PIRATAS (7)


COM QUE TIPO DE NAVIOS OS PIRATAS ARGELINOS
SE FAZIAM AO ATLÂNTICO

Neste ponto da História sobre a Ilha do Corvo que estou a desenhar é importante saber como eram os navios com que os piratas turcos navegavam até ao arquipélago dos Açores, vindos da Argélia. Isto para que a narrativa gráfica tenha o rigor necessário.

Na sequência da reconquista cristã na Península Ibérica, os povos muçulmanos afastados das terras que ocupavam, refugiaram-se no Norte de África. Alguns dedicaram-se ao corso e à pirataria atuando no Mediterrâneo, passando depois à Costa Atlântica, atacando o continente europeu, principalmente os arquipélagos dos Açores e da Madeira.
Um documento existente regista os resgates de cristãos cativos no século XVII pelos frades Trinitários, e dá-nos conta do número de escravos trazidos à liberdade, originários da Península Ibérica e do Arquipélago dos Açores.

Enquanto que nos ataques efetuados no Mediterrâneo, e segundo a documentação iconográfica chegada até aos nossos dias, os piratas turcos utilizavam barcos a remos, galeras e galeotas, com ajuda de uma ou duas velas latinas, quando se lançaram no Oceano, abandonaram os remos que até lhes dificultava a manobra na altura dos ataques e passaram a navegar só à força do vento.
Um dos documentos é este detalhe (ver imagem abaixo) de um quadro mostrando a célebre batalha de Lepanto, que se encontra no Museu Marítimo Nacional de Londres e onde se pode ver com rigor as galeras turcas.

Outra pintura, esta de Francesco Morosini, representando a mesma batalha. 

Este selo comemorativo do quarto centenário dessa batalha é mais um documento em que podemos confiar, pois podemos cruzar imagens de outras origens, como de livros credíveis sobre náutica dessa época, para obtermos a confirmação do rigor histórico.

Esta gravura mostra uma galera a navegar aproveitando o vento, com os remos levantados para facilitar a sua deslocação sobre as vagas.
Os turcos adotaram a traça das galeras e galeaças italianas e gregas, devido a alguns construtores navais se terem convertidos ao islão, ou terem sido feitos prisioneiros e obrigados a colaborar na construção desses barcos.
 

As iluminuras nos mapas são também uma boa informação, pois os cartógrafos eram de uma maneira geral bons navegadores e desenhavam muito bem os barcos da sua época que conheciam bem.
Cada vez mais industriados na arte de navegar no Oceano, os turcos aparelhavam barcos deste tipo.



Junto a nota que um dos meus dedicados coordenadores científicos, João Saramago, me enviou sobre este assunto no mail que transcrevo:

«Meu amigo José Ruy
Uma observação ou, melhor, opinião quanto aos barcos: eu, pela minha experiência, de remador das lanchas do peixe, apercebi-me da dificuldade de articular a «remagem» em conjunto com o outro remador quando o mar estava mais ondulado. Assim, tenho dúvidas como seria difícil trazer uma embarcação, bem maior, para o meio do Atlântico. Isto, para não falar da logística necessária aos remadores que, eventualmente, seriam escravos e não homens de armas. Só em mantimentos e água seria necessário duplica-los.
Como te digo, é apenas uma opinião pessoal.
Abraço amigo para ti,
João Saramago»

Considero muito a opinião abalizada deste colaborador amigo, como de todos os outros.
Uma das fontes que utilizo nesta pesquisa, tem sido a obra de Björn Landeström.
Depois de troca de imagens por mail, João Saramago enviou-me então a sua opinião mais firme:

«Quanto às galeras/naus com ou sem remos, «está decidido», o teu conhecimento é de muita força. Coincide também com as imagens dos mapas do século XVI e XVII, em que aparecem em certas alturas «as naus turcas sem remos», como a imagem que junto em ANEXO».

E na nossa história em quadrinhos, os piratas estão a chegar, nestas naus, à Ilha do Corvo no dia 23 de junho de 1632, na recriação que faço desse acontecimento histórico.

Na próxima publicação desta série no «BDBD Blogue» e por gentileza dos seus promotores, explicarei como obtive as exclamações proferidas pelos turcos, bem como as expressões dos corvinos na altura em que decorre esta narrativa.
Encerro este artigo partilhando convosco um interessante desenho que encontrei, uma galera turca construída graficamente por rasgos da escrita árabe. Quanto a mim, delicioso.



Agosto de 2016
José Ruy

Sem comentários:

Enviar um comentário